quinta-feira, 11 de julho de 2013

Tirar o siso

Tirar o siso pode ser uma experiência dolorosa, e realmente é, como muitos momentos em nossas vidas

O siso nada mais é que algo que atrapalha os demais dentes. Coitadinho, nasceu para incomodar. Há quem tenha os seus, mas geralmente são pessoas esperando pelo dia da extração. Apesar disso, o siso é tido como um status, um “você cresceu”, acompanhado das piadinhas de “criou juízo”, justamente por aparecer no início da vida adulta. Aliás, por que algo que incomoda e, segundo dentistas, “não serve para nada”, é símbolo de juízo?

O que acontece é que a arcada dentária humana acostumou-se com alimentos pastosos e de fácil mastigação, ocasionando uma redução no seu crescimento. Com isso, os terceiros molares, dentes saudáveis e até então úteis, começaram a incomodar. Não havia espaço para eles, e passaram a crescer uns por cima dos outros, empurrando os colegas e pedindo para sair.

Às vezes as coisas são assim na nossa vida. Algo nos incomoda, algo não consegue encontrar espaço no nosso dia a dia. É preciso arrancar pela raiz. Por mais que doa (parece que tiraram uma árvore da sua mandíbula/maxila), é necessário. Depois desse momento e de muito sangue, marca da ferida, temos os pontos. Os pontos são como amigos, que unem dois cantos cortados e contribuem com a recuperação. Quantos amigos já não serviram de ponte nessa nossa vidinha?

Outra lição pode ser tirada da anestesia. Quando vi a seringa com anestesia, já fiquei meio ressabiada. Que medo. E o líquido amorteceu tudo na minha boca. Muitas coisas mascaram nossos problemas. Às vezes você não sente nada, não quer sentir, nem pensar a respeito, mas há algo que está cortando, ferindo, enquanto tudo parece estar de acordo. A anestesia, no caso do siso, vem para bem. Mas no caso da vida não. Há quanto tempo o povo brasileiro, por exemplo, andava anestesiado – e grande parte ainda está? Quando o efeito da anestesia passa, resta dor latejante. Mas pelo menos a dor é transparente, é sincera, e não esconde nada de você: estás realmente machucado.

E depois? Depois da dor e do desconforto, e do gosto de sangue interminável, vem o sorvete. Ah, o sorvete. O dentista lhe prescreve: fique quieto, em casa, à base de sorvete. Só sorvete, iogurte, coisinhas assim. É como se o nutricionista mandasse comer batata frita todo o dia, com chocolate de sobremesa. Ou seja, depois de situações difíceis, sempre há algo de bom. Depois de se livrar do problema que nasce torto, que incomoda e traz dor, de anestesiar para esconder a ferida, depois da árvore que arrancaram do seu osso, tudo acaba bem.

Há um provérbio chinês que diz: dor antes, prazer depois. E é bem assim. É preciso lutar antes, buscar seus objetivos, encarar as dificuldades. E depois, quem sabe, tenhas sorvete lhe esperando.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Textos Imagéticos

Imagens falam tanto quanto textos. E o melhor é que cada pessoa pode formar o seu. Uma imagem pode lembrar a mim determinados aspectos, enquanto que, para você, desperta outros sentimentos.

A fotografia é a palavra. A imagem é puro texto!






Imagens por Luciane Modena
em Caxias do Sul - RS
(a segunda fotografia foi capturada em Balneário Gaivota - SC)

Política para quem se interessa

No ano passado, fui convidada para participar de um programa de debates numa tradicional emissora de rádio da minha cidade. O tema era o desinteresse do jovem para com a política, segundo revelava uma pesquisa feita com estudantes. Esta havia sido divulgada pouco antes das eleições para prefeito e vereadores. Lembro-me do quanto isso era preocupante para mim, e de ter feito um apelo para que o jovem pesquisasse sobre seus candidatos. Afinal, com o fácil acesso à informação, isso não seria difícil.

No início deste ano, tive a oportunidade de começar um estágio na Casa Legislativa da cidade, a Câmara de Vereadores. Meu trabalho, na assessoria de imprensa, é realizar a cobertura jornalística das atividades do Legislativo e das sessões plenárias, a fim de repassá-las para os veículos de comunicação. Foi com este estágio que pude tirar muitas conclusões a respeito do desinteresse do jovem pela política. 

Foto: Luciane Modena
O primeiro aspecto é a colocação do poder público num pedestal. Ele tem, é claro, grande valor para a sociedade. Mas este advém das pessoas, e não de toda a pompa e circunstância dos grandes cargos públicos. Qualquer jovem gostaria de ter carreira pública, emprego garantido, boa remuneração. Entretanto, tudo o que um funcionário público deve ter é altruísmo, obtido com a consciência de quem lhe paga os salários. A elitização e a competição pelos cargos acabam se tornando um aspecto negativo. 

O vocabulário empregado também não ajuda. Pareceres pela inconstitucionalidade, decretos legislativos, deliberações das sessões, moções, tribuna livre, regimento interno, bancadas, declarações de líderes, grande expediente, audiências. Enquanto comunicadora, sempre tentei traduzi-los aos cidadãos. Custei a entender que esse era o papel dos veículos de comunicação. 

Tem vereador que exagera. A maioria deles se trata por “nobre par”. Os nobres pares. Certa vez, encontrei um projeto de lei que seria votado, com a inscrição “colendo plenário desta Casa Legislativa”. O que é colendo? Colendo é algo respeitável (afirmou minha rápida pesquisa no Google). Eu não tenho medo de vocabulário novo, de aprimorar léxico. Só tenho medo de que isso afaste ainda mais as pessoas.

Foto: Luciane Modena
Também há a opção de acompanhar as sessões ao vivo, pela televisão ou internet. Os debates, dependendo da ocasião, são muito interessantes. O problema é que a partir de 2013 são 23 vereadores, e não mais 17. Isso faz com que as discussões se alonguem mais, muitas vezes sem levar a um desfecho coerente. É como um campeonato para ver se todo mundo já falou alguma coisa. Nesses casos, conhecer as partes de uma sessão contribui muito: pequenas comunicações; grande expediente; ordem do dia; explicações pessoais. Agora é só lidar com a competição desleal com a novela ou o facebook, e teremos diversos cidadãos assistindo a Câmara votar projetos de lei.

Já acompanhei vereador ocupar a tribuna para mostrar esculturas de barro que havia feito. Ele também comentou que antes as produzia em batatas doces. Outro comentando a presença de sua esposa na plateia, que “deveria estar numa conversa interessante” porque não estava olhando para ele. Outro ainda que desatou a discorrer sobre o Estado laico diante da visita de uma comitiva da Festa do Divino Espírito Santo à Câmara, que é a Casa de todos.

Outro motivo para esse distanciamento entre público e poder público é que não está clara à população a diferença entre Executivo e Legislativo. Trabalhando no Legislativo, pude compreender eficazmente as funções de um e de outro. Mas, como se pode eleger um vereador se não se sabe o que ele faz? Quantos não prometeram diversas obras, mas simplesmente não poderão fazê-las por tratar-se de gastos ao Executivo?

Quando eu era criança, queria ser a primeira presidente do Brasil. Entre minhas propostas, estava reduzir os impostos a um real por pessoa. Queria que uma margarina, por exemplo, custasse R$ 0,05. Assim, na minha visão inocente, todos se tornariam ricos de uma hora para outra. Isso, hoje, seria impossível. Não só pelas minhas antigas pretensões, mas também pela eleição da Dilma, e eu queria ser a primeira. E também porque quando crescemos acabamos nos dando conta de que as coisas, infelizmente, não são tão fáceis quanto gostaríamos.

Platinho não, Platão.
Acredito que ainda há muito a ser feito para aproximar as pessoas da política. O Brasil não é uma das melhores referências, com os constantes casos de corrupção e uma das cargas tributárias mais altas do mundo. Mas, um mínimo de conhecimento é possível e necessário. Como se pode gostar ou não de algo que não se conhece? A informação é acessível, e esta, a meu ver, é uma das mais importantes para a participação social que nos qualifica como cidadãos. Afinal, “não há nada de errado com aqueles que não gostam de política: simplesmente serão governados por aqueles gostam” (Platão).

Investir em Futuro

Diante da preparação do país para sediar grandes eventos de nível mundial, a segurança pública se destaca como um dos aspectos mais preocupantes. As constantes ocorrências de delitos cometidos por jovens alertam para um assunto sempre em debate na sociedade: a redução da maioridade penal.

O sistema prisional brasileiro vive uma eterna crise, onde a possibilidade de recuperação do apenado revela-se utópica. Notícias recentes retratam as constantes fugas de presidiários à luz do dia, que retornavam à penitenciária à noite. Tal situação foi definida por um policial, em entrevista, como "regime sempre aberto". A superlotação, o acesso a telefones celulares e os motins (brigas violentas), por exemplo, levam a crer que esse não seja o melhor ambiente para a recuperação social do criminoso. Tanto menos do jovem.

Uma alternativa, que busca a reintegração do menor que comete delitos são os Centros de Atendimento Socioeducativo (Cases). Divididos em diferentes regiões nos estados, os centros atendem jovens entre 12 e 21 anos incompletos. A proposta inclui formação escolar e técnica, preparatória para o mercado de trabalho. O jovem cumpre sua pena no ambiente voltado à educação disciplinadora, privilegiando um autoconhecimento que traga uma reopção de vida.

O Case de Caxias do Sul atende a 43 municípios da região. De acordo com o diretor, os menores atendidos em Caxias sempre tiveram um perfil agravado criminalmente. Dos 63 apenados, 30 cumprem a detenção por crimes como homicídio e latrocínio. As atividades desenvolvidas com os jovens envolvem cursos do SENAI e Pronatec, além de parcerias com programas como Jovem Aprendiz.

A proposta tem se mostrado eficaz, uma vez que os índices de reincidência ao crime permeiam os 20% (pouco, comparado com o sistema penitenciário). O jovem menor de idade é, portanto, punido. Mas, há um investimento em seu futuro.

Apesar disso, é necessária mais atenção a projetos como esse. O Case caxiense está também com lotação, uma vez que foi estruturado para apenas 40 jovens. Ao invés de reduzir a maioridade penal, o ideal seria investir em estruturas como os Cases e todo o sistema educacional (verdadeiro símbolo de prevenção em termos de segurança pública).

Por Francielle Arenhardt e Luciane Modena
Artigo de Opinião

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Equívocos na Língua

Engraçado o modo como as pessoas costumam trocar palavras de grafias semelhantes, mas com significados totalmente adversos, na construção das suas frases. Seria puramente cômico se não escondesse o grande problema presente em muitos até mesmo do nível superior: a inabilidade de articulação e de expressão através da língua portuguesa, decorrente principalmente da falta de leitura e de prática.

Certa vez, ao perguntar à minha catequizanda se ela gostaria de ler um trecho da Bíblia em voz alta, recebi um: “Não, catequista, eu sou muito vergonhosa” como resposta. É óbvio que uma criança de nove anos não teria cometido crime tão hediondo a ponto de não se considerar digna de ler o Livro Sagrado em alto e bom som. Entendi que, na verdade, ela quis dizer “envergonhada”, mas confundiu-se com as palavras parecidas.

Para uma criança, ainda há muito estudo pela frente. Terá tempo para reconhecer as estruturas da língua a aumentar o vocabulário. Mas, não conseguirá fazê-lo sem o velho hábito que acompanha os cérebros mais afiados: a leitura. O professor e membro da Mensa – sociedade formada por pessoas de alto QI – Pierluigi Piazzi, bem expressa essa relação, afirmando que quem não lê não sabe escrever e nem se comunicar corretamente: é como um surdo-mudo, que apenas é mudo por não poder ouvir.

Mais do que isso, importa fazer os jovens estudantes gostarem de ler. As leituras obrigatórias a que estão submetidos os que cursam o Ensino Médio podem ocasionar um desastre nessa área. Como cobrar de um aluno despreparado a compreensão de alguns títulos clássicos? Eles acabam rotulando-os como maçantes e cansativos, injustamente. O recurso de leituras obrigatórias deve ser usado com cautela para que tenham eficiência. O aluno, quando chegar ao Ensino Médio, já deve ter acendido em si o gosto pela leitura, despertado quando encontrou um livro com o qual se identificou ainda na infância. 

Um artigo muito interessante do economista Claudio de Moura Castro analisa o perfil de leitura do brasileiro a partir de uma dificuldade por ele sentida: queria comprar estantes para livros, mas não encontrava modelos compatíveis à venda. Estantes para televisão? Aos montes. Para livros, somente aquelas montadas com ferros, estilo as de bibliotecas, consideradas “horrendas”. Pesquisando em sites estadunidenses, encontrou mais de 300 modelos de estantes com o fim de guardar os preciosos. A lógica é que ninguém vende produtos que não tenham consumidores: a média dos brasileiros é de 1,8 livro lido por habitante/ano. Pouco, comparando com os colombianos (2,4), os estadunidenses (5) e os franceses (7). Assim não dá para encher a estante. 

Os enganos frequentes eram mais percebidos na escrita. Mas, por difusão, invadem a fala, até a que deveria ser mais formal… Quem nunca parou para ouvir uma conversa alheia dentro do ônibus, quem sabe até opinando a respeito do problema de alguém totalmente desconhecido? Pois é. Foi numa dessas ocasiões que ouvi uma senhora que falava ao telefone. Ela certamente havia sido contatada para dar referências a respeito de um moço. Disse ela: “Sim, podes contratá-lo! Ele é um rapaz ótimo: trabalhador e muito interesseiro”. Bom, eu não contrataria alguém muito interesseiro para minha empresa. Uma pessoa bastante interessada seria mais motivador…




Os equívocos estão por toda a parte, e criam uma aura de que o português é uma língua complicada. Talvez fosse mais simples se bem exercitada, se reconhecida como promotora da cultura e identidade do povo, como meio principal da nossa comunicação. Assim, Olavo Bilac não se reviraria no caixão, e podemos saudosamente repetir: 

“Amo-te ó rude e doloroso idioma, 

Em que da voz materna ouvi: “Meu filho!”,

E em que Camões chorou, no exílio amargo, 

O gênio sem ventura e o amor sem brilho!”. 







domingo, 7 de julho de 2013

Desesperados

Não aguento mais ouvir os desesperados “vai cair na prova” durante as aulas. Parece que tudo gira em torno disso. Quantas vezes ouço “vou anotar o que o professor disse porque vai cair na prova”, “vou ler aquele texto porque pode cair na prova”… Pôxa! Será que somente daquilo que cai em provas é feito o conhecimento? Ninguém mais ambiciona aumentar sua conta de conhecimento, ninguém mais parece ter prazer em expandir suas conexões neurais. Até porque depois que a “prova” passar, tudo tende a ser esquecido. E isso também compromete a qualidade de ensino dos diversos cursos.

As pessoas se preocupam muito em colecionar coisas que aumentem sua conta bancária, seus bens concretos. Mas a conta de conhecimento, de inteligência, de sabedoria a partir das situações vividas? Por favor, galera!! Sei muito bem que os bens materiais, assim como estão sob a nossa posse, podem de uma hora para a outra não estar mais. Mas os conhecimentos não se apagam tão fácil assim: devem fazer parte do nosso próprio ser.


“Uma mente que se abre a uma nova ideia nunca mais retorna ao seu tamanho original” – Albert Einstein