terça-feira, 9 de julho de 2013

Política para quem se interessa

No ano passado, fui convidada para participar de um programa de debates numa tradicional emissora de rádio da minha cidade. O tema era o desinteresse do jovem para com a política, segundo revelava uma pesquisa feita com estudantes. Esta havia sido divulgada pouco antes das eleições para prefeito e vereadores. Lembro-me do quanto isso era preocupante para mim, e de ter feito um apelo para que o jovem pesquisasse sobre seus candidatos. Afinal, com o fácil acesso à informação, isso não seria difícil.

No início deste ano, tive a oportunidade de começar um estágio na Casa Legislativa da cidade, a Câmara de Vereadores. Meu trabalho, na assessoria de imprensa, é realizar a cobertura jornalística das atividades do Legislativo e das sessões plenárias, a fim de repassá-las para os veículos de comunicação. Foi com este estágio que pude tirar muitas conclusões a respeito do desinteresse do jovem pela política. 

Foto: Luciane Modena
O primeiro aspecto é a colocação do poder público num pedestal. Ele tem, é claro, grande valor para a sociedade. Mas este advém das pessoas, e não de toda a pompa e circunstância dos grandes cargos públicos. Qualquer jovem gostaria de ter carreira pública, emprego garantido, boa remuneração. Entretanto, tudo o que um funcionário público deve ter é altruísmo, obtido com a consciência de quem lhe paga os salários. A elitização e a competição pelos cargos acabam se tornando um aspecto negativo. 

O vocabulário empregado também não ajuda. Pareceres pela inconstitucionalidade, decretos legislativos, deliberações das sessões, moções, tribuna livre, regimento interno, bancadas, declarações de líderes, grande expediente, audiências. Enquanto comunicadora, sempre tentei traduzi-los aos cidadãos. Custei a entender que esse era o papel dos veículos de comunicação. 

Tem vereador que exagera. A maioria deles se trata por “nobre par”. Os nobres pares. Certa vez, encontrei um projeto de lei que seria votado, com a inscrição “colendo plenário desta Casa Legislativa”. O que é colendo? Colendo é algo respeitável (afirmou minha rápida pesquisa no Google). Eu não tenho medo de vocabulário novo, de aprimorar léxico. Só tenho medo de que isso afaste ainda mais as pessoas.

Foto: Luciane Modena
Também há a opção de acompanhar as sessões ao vivo, pela televisão ou internet. Os debates, dependendo da ocasião, são muito interessantes. O problema é que a partir de 2013 são 23 vereadores, e não mais 17. Isso faz com que as discussões se alonguem mais, muitas vezes sem levar a um desfecho coerente. É como um campeonato para ver se todo mundo já falou alguma coisa. Nesses casos, conhecer as partes de uma sessão contribui muito: pequenas comunicações; grande expediente; ordem do dia; explicações pessoais. Agora é só lidar com a competição desleal com a novela ou o facebook, e teremos diversos cidadãos assistindo a Câmara votar projetos de lei.

Já acompanhei vereador ocupar a tribuna para mostrar esculturas de barro que havia feito. Ele também comentou que antes as produzia em batatas doces. Outro comentando a presença de sua esposa na plateia, que “deveria estar numa conversa interessante” porque não estava olhando para ele. Outro ainda que desatou a discorrer sobre o Estado laico diante da visita de uma comitiva da Festa do Divino Espírito Santo à Câmara, que é a Casa de todos.

Outro motivo para esse distanciamento entre público e poder público é que não está clara à população a diferença entre Executivo e Legislativo. Trabalhando no Legislativo, pude compreender eficazmente as funções de um e de outro. Mas, como se pode eleger um vereador se não se sabe o que ele faz? Quantos não prometeram diversas obras, mas simplesmente não poderão fazê-las por tratar-se de gastos ao Executivo?

Quando eu era criança, queria ser a primeira presidente do Brasil. Entre minhas propostas, estava reduzir os impostos a um real por pessoa. Queria que uma margarina, por exemplo, custasse R$ 0,05. Assim, na minha visão inocente, todos se tornariam ricos de uma hora para outra. Isso, hoje, seria impossível. Não só pelas minhas antigas pretensões, mas também pela eleição da Dilma, e eu queria ser a primeira. E também porque quando crescemos acabamos nos dando conta de que as coisas, infelizmente, não são tão fáceis quanto gostaríamos.

Platinho não, Platão.
Acredito que ainda há muito a ser feito para aproximar as pessoas da política. O Brasil não é uma das melhores referências, com os constantes casos de corrupção e uma das cargas tributárias mais altas do mundo. Mas, um mínimo de conhecimento é possível e necessário. Como se pode gostar ou não de algo que não se conhece? A informação é acessível, e esta, a meu ver, é uma das mais importantes para a participação social que nos qualifica como cidadãos. Afinal, “não há nada de errado com aqueles que não gostam de política: simplesmente serão governados por aqueles gostam” (Platão).

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