No ano passado, fui convidada para participar de um programa de debates numa tradicional emissora de rádio da minha cidade. O tema era o desinteresse do jovem para com a política, segundo revelava uma pesquisa feita com estudantes. Esta havia sido divulgada pouco antes das eleições para prefeito e vereadores. Lembro-me do quanto isso era preocupante para mim, e de ter feito um apelo para que o jovem pesquisasse sobre seus candidatos. Afinal, com o fácil acesso à informação, isso não seria difícil.
No início deste ano, tive a oportunidade de começar um estágio na Casa Legislativa da cidade, a Câmara de Vereadores. Meu trabalho, na assessoria de imprensa, é realizar a cobertura jornalística das atividades do Legislativo e das sessões plenárias, a fim de repassá-las para os veículos de comunicação. Foi com este estágio que pude tirar muitas conclusões a respeito do desinteresse do jovem pela política.
Foto: Luciane Modena |
O vocabulário empregado também não ajuda. Pareceres pela inconstitucionalidade, decretos legislativos, deliberações das sessões, moções, tribuna livre, regimento interno, bancadas, declarações de líderes, grande expediente, audiências. Enquanto comunicadora, sempre tentei traduzi-los aos cidadãos. Custei a entender que esse era o papel dos veículos de comunicação.
Tem vereador que exagera. A maioria deles se trata por “nobre par”. Os nobres pares. Certa vez, encontrei um projeto de lei que seria votado, com a inscrição “colendo plenário desta Casa Legislativa”. O que é colendo? Colendo é algo respeitável (afirmou minha rápida pesquisa no Google). Eu não tenho medo de vocabulário novo, de aprimorar léxico. Só tenho medo de que isso afaste ainda mais as pessoas.
Foto: Luciane Modena |
Já acompanhei vereador ocupar a tribuna para mostrar esculturas de barro que havia feito. Ele também comentou que antes as produzia em batatas doces. Outro comentando a presença de sua esposa na plateia, que “deveria estar numa conversa interessante” porque não estava olhando para ele. Outro ainda que desatou a discorrer sobre o Estado laico diante da visita de uma comitiva da Festa do Divino Espírito Santo à Câmara, que é a Casa de todos.
Outro motivo para esse distanciamento entre público e poder público é que não está clara à população a diferença entre Executivo e Legislativo. Trabalhando no Legislativo, pude compreender eficazmente as funções de um e de outro. Mas, como se pode eleger um vereador se não se sabe o que ele faz? Quantos não prometeram diversas obras, mas simplesmente não poderão fazê-las por tratar-se de gastos ao Executivo?
Quando eu era criança, queria ser a primeira presidente do Brasil. Entre minhas propostas, estava reduzir os impostos a um real por pessoa. Queria que uma margarina, por exemplo, custasse R$ 0,05. Assim, na minha visão inocente, todos se tornariam ricos de uma hora para outra. Isso, hoje, seria impossível. Não só pelas minhas antigas pretensões, mas também pela eleição da Dilma, e eu queria ser a primeira. E também porque quando crescemos acabamos nos dando conta de que as coisas, infelizmente, não são tão fáceis quanto gostaríamos.
Platinho não, Platão. |
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